São quase nove anos separando a minha última postagem no BLOG ZV TATTOO até o dia de hoje, quando volto a escrever publicamente. De lá pra cá muita coisa mudou, o ZV Tattoo fechou, nasceu o Ateliê Boitatá, escrever num Blog ficou fora de moda, chegou a era de IA e o mundo inteiro está em CRISE.
Antes disso tudo acontecer eu não podia imaginar que me tornaria professor de crianças, que ia trabalhar como gestor cultural organizando e realizando projetos sociais, que ia trabalhar criando cartazes para grupos de capoeira e de cultura popular e muuuuuito menos imaginava que a tatuagem se tornaria algo secundário no meu campo de trabalho. No auge da minha ingenuidade eu já me projetava um idoso dono de studio de tattoo.
Ontem conversando com um amigo, um jovem tatuador que circula por diversos espaços de tatuagem, falávamos sobre a CRISE que tá rolando no mercado da tattoo, a gente percebe que tá rolando um clima meio morgado nessa cena, no geral a galera da cena autoral tá tatuando pouco, pelo nosso ponto vista vale salientar.
O mercado da tatuagem continua crescendo, mas de forma pulverizada, tem muito mais gente competindo. Percebo que artistas da cena atual já não se dedicam exclusivamente ao trampo com agulhas, sempre tem um trampo com ilustração, design, gravura, cerâmica, boné, camisa, entre outros.
Eu contava que isso de alguma forma chegou primeiro para mim, senti o movimento cair aos poucos, o comportamento do público mudando por diversos fatores, como por exemplo o surgimento de estudios segmentados por questões identitárias. Não demorou para que eu pudesse ver uma nova geração atuando, e agora, bastante gente da minha geração (início entre 2005 e 2010) tá passando por perrengues para conseguir manter as coisas minimamente funcionando. É claro que esse assunto ninguém fala em público, mas seria ótimo se a galera se juntasse pra conversar.
Sem querer romantizar a precariedade, mas foi exatamente nesse cenário de CRISE que eu tive que me reinventar, criando novas possibilidades de atuação no mercado cultural. Ao longo desses anos depois que eu fechei o ZV TATTOO, fiz um monte de coisa no campo das artes visuais, focando na carreira como artista independente me reconectei com a pintura, com a escultura, com a gravura, ministrei oficinas diversas, escrevi projetos, realizei dois projetos sociais aprovados em editais de cultura, realizei minha primeira exposição individual VIGA - Arte e Credo de Nando Zevê que teve curadoria chiquérrima de Bruno Albertim e Monica Bouqvar, essa exposição que aconteceu na Casa da Estação da Luz em Olinda em 2023, reuniu um pedacinho da minha produção mais recente como artista, em outro momento eu desdobro melhor sobre o meu trabalho de arte.
Registro da Visita Mediada realizada na Exposição VIGA
Atualmente estou cursando uma especialização em Gestão Cultural e Economia Criativa pela PUC-Rio, ainda sou “calouro” e talvez esse seja um dos principais motivos de estar aqui escrevendo pra vocês novamente, além do ganho de autoestima, a disciplina de Marketing para projetos culturais me deu um empurrãozinho, me mostrando a importância de estar “firmando o ponto” nas redes.
Mas voltando a falar de CRISE, que é o tema principal desse post de hoje, eu fico imaginando que tatuadores que vieram antes de mim também passaram por esse tipo de situação, a minha geração se construiu em parte junto com o facebook e o instagram, quando a vitrine da loja passou a ser virtual e ninguém precisava mais manter uma super loja nas avenidas principais da cidade.E a galera que não conseguiu migrar para rede social?
Quantos projetos já se encerram, artistas que eram conhecidos com referências, fizeram escola e que hoje já não tem tanta “relevância” para o público que consome tatuagem. Pesquisas indicam que o público que mais se tatua tem entre 20 e 29 anos, e pela minha experiência, esse público geralmente procura artistas da mesma faixa etária, ou seja, essa galerinha é que tá no Hype. E agora com IA fazendo o nosso trabalho em segundos, que loucura. Qual artista que não está em CRISE em nossos tempos?
A pior parte da CRISE é ficar castelando sobre esse assunto sem conseguir solucionar efetivamente o problema, durante muito tempo me culpei, culpei o algoritmo, questionei meu movimento nas redes sociais, e sabe de uma coisa, no final das contas eu fiz o precisava ser feito, respeitei minha intuição, dancei as dancinhas que tava afim, fiquei off, cancelei conta quando bateu o louco também e tá tudo certo, “e o cabra vai endoidar é?” Cada pessoa tem a sua trajetória, e pelo que eu tô entendendo não adianta planejar muito porque Exu vai dar um jeito de te colocar numa encruzilhada pra você sair dela mais esperto.
É sempre massa a sensação de colocar pra fora uma ideia que passei muito tempo processando, nesse caso alguns anos hahah! Feliz por compartilhar com vocês um pouco mais profundamente. Agradeço demais você que chegou até aqui!
Valeu por acompanhar!
Mas antes de ir eu deixo duas perguntas: A Crise chegou pra você também? Como tem lidado com ela? Me manda um email: [email protected] e vamos trocar essa ideia!
Boa Sorte e Boa CRISE galera, lembra que o Lótus nasce da lama!